NOSSA HISTÓRIA
Quilombo Família dos Amaros
Em frente às casas do núcleo familiar de Mariínha e Benedito em Paracatuzinho
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A família dos Amaros conservou claramente na memória sua origem e sua genealogia, da qual se orgulham. Nunca perderam suas referências com seu território. Hoje, lutam pelo direito de voltar a viver em suas terras cuja compra Amaro Pereira das Mercês teve o cuidado de documentar no Registro do Vigário em 1850.
O processo de reconhecimento como comunidade remanescente de quilombo, pela Fundação Cultural Palmares, teve início com a aproximação a uma instituição local voltada para a defesa dos direitos de pessoas negras - Instituto Fala Negra. Hoje seguem na luta como prova viva de que a resistência é maior do que a violência do Estado e do capital.
A comunidade possui forte senso identitário, expresso em uma vigorosa cultura material, religiosa e artística, e mantém suas características de comunidade rural ainda que confinada em um meio urbano; isso porque os laços com a terra ancestral nunca foram rompidos a despeito da expulsão violenta.
Sua luta vai mais além da sobrevivência material e da manutenção das suas tradições: compreende a condição da sua atuação positiva no processo histórico, pela via da reprodução da sua identidade, dependente da re-ocupação do espaço fundiário legado pelos seus antepassados.
A família dos Amaros descende de Amaro Pereira das Mercês, escravo alforriado que adquiriu uma gleba de terras abandonadas na Serra das Almas - Morro do Ouro, em fins do séc. XVIII, nas proximidades de Paracatu, no lugar chamado Fazenda Pituba. Eram terras já erodidas pelo intenso trabalho de mineração que vigorou em Paracatu de 1730 a 1780. No final dos setecentos, o número de escravos forros mais que duplicou em relação ao de cativos. Estes negros constituíram um campesinato em plena vigência da escravidão.
Nesta terra, Pituba, Amaro viveu com outros negros forros, constituiu sua família, dançou suas festas, plantou sua roça, criou seus poucos animais, viu a sociedade do ouro dar lugar às grandes fazendas.
Os descendentes de Amaro Pereira das Mercês, chamados de Amaros, ocuparam estas terras por cerca de 100 anos até que, durante o século XX, foram expulsos gradativamente por fazendeiros locais. Permaneceu, entretanto, um "núcleo Amaro" nas terras: Dona Romana e sua família, além de ser considerada moradora "de favor" pelos fazendeiros que tomaram as suas terras, sofre com o avanço da cerca da Mineradora Rio Paracatu, hoje Kinross, que explora o Morro do Ouro, em terras contíguas à sua.
O restante de seus descendentes, expulsos da terra ao longo dos anos em um processo histórico de expropriação, reside no bairro de Paracatuzinho, na periferia de Paracatu. Trabalham com artesanato e prestação de serviços urbanos - catadores de materiais recicláveis.
Narrativa de Mariínha - Maria D'Abadia Pereira Guimarães, 77 anos.
Principal liderança do Quilombo Família dos Amaros em Paracatu-MG.
Vídeo: Caio Guimarães e Eliane Guimarães
Edição: Rosângela Carvalho
Depoimentos sobre a história do Quilombo
Família dos Amaros
Pesquisadores, antropólogas, produtores e principais lideres da Comunidade Família dos Amaros de Paracatu-MG relatam sobre a história de seu antepassado Amaro Pereira das Mercês e, sobre trajetória de luta pelo retorno ao território tradicional de onde a maioria foi expulsa desde a década de 1950.